quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Projeto Político Pedagógico: hora da avaliação

Início de ano, momento para reunir a equipe, pensar nos desafios coletivos e propor formas de superá-los


"O processo de avaliação institucional, quando bem realizado, permite elucidar os problemas da escola."

O início do ano representa, para as mais diferentes áreas, o momento de refletir sobre o ciclo percorrido e fazer projetos. Na escola, não é diferente. O início do período letivo traz a oportunidade ao orientador educacional e a todo o grupo de gestão de fazer um levantamento das demandas coletivas, das metas educacionais e das ações necessárias para realizá-las durante o ano. O processo de avaliação institucional, quando bem realizado, permite elucidar os problemas da escola. E toda a comunidade é envolvida na busca de soluções. Existem diversas maneiras de realizar esse trabalho. O número de participantes e a qualidade das relações interpessoais determinam as estratégias mais eficientes. Ele pode ser feito em diferentes espaços e por meios variados (em reuniões de equipe, via internet ou com o uso de questionários ou urnas, quando é preciso que todos se manifestem) e organizado por séries, ciclos ou segmentos. O essencial nessa ação é criar dispositivos para que todos - alunos, pais, professores, funcionários e gestores - sejam convidados a pensar nos desafios coletivos que a escola enfrenta e se responsabilizar pelas mudanças necessárias para superá-los. Para que a avaliação seja bem-sucedida, é necessário, antes de tudo, focar apenas os assuntos e objetivos institucionais que dizem respeito a toda a comunidade e dividir o trabalho em duas etapas.
  1. A primeira delas envolve o levantamento das demandas, isto é, de tudo aquilo que o grupo identifica como sendo um problema que afeta a todos. Entre os desafios educacionais que exigem tratamento institucional, é comum aparecerem problemas relativos aos trabalhos em grupo dos alunos, ao conselho de classe, à alimentação, à indisciplina, ao bullying, ao uso da internet, à comunicação com os pais e ao sistema de avaliação.

  2. Na segunda fase, faz-se uma análise dos assuntos que preocupam e elege-se pelo menos um grande tema que inclua a parte mais significativa das demandas. Como essa escolha não é fácil, sugiro escolher sempre aquele que mais afetou a aprendizagem durante o ano. Feito isso, os envolvidos precisam se debruçar sobre a questão para identificar formas de solucioná-la ou minimizá-la.

Essas atividades demandam reflexões de duas ordens:

- A constatação do problema e o levantamento das origens e das consequências.

Uma escola que, por exemplo, tenha definido como uma dificuldade institucional a baixa adesão dos alunos à realização das lições de casa pode começar a se perguntar por que e para quem isso é um problema. Como esse fenômeno se desenvolve ao longo da escolaridade? Quando os alunos deixam de fazer as tarefas? Há um período do ano de maior ou menor produtividade? Quais as intenções dos professores com as propostas das lições? Em que momento da rotina o docente anuncia os deveres para os alunos? Eles são retomados em sala de aula? Quais as intenções pedagógicas do professor com esses trabalhos? Qual o sentido que os alunos atribuem às atividades? Existe alguma regra para aplicar a quem faz e a quem não faz as lições? O que dizem os estudantes que realizam e os que não executam as tarefas? E os pais, o que pensam? Como participam?

- Definição das ações que visam solucionar a questão e a meta pretendida.

Esclarecida a natureza do problema, começa a busca pelas formas de resolvê-lo. Ainda no exemplo das lições de casa, uma possibilidade é propor que elas se tornem um tema das reuniões pedagógicas. Nos encontros, gestores e professores têm oportunidade de investigar os diferentes modelos de tarefa para os alunos e trocar experiências de atividades que envolveram as turmas. Os gestores podem definir, por exemplo, os princípios que vão orientar a elaboração dos deveres de casa e como ele precisa ser problematizado em sala de aula. O tipo de controle sobre a quantidade e a qualidade dos conteúdos também entra na discussão desse fórum, assim como a relevância de atribuir nota a essas atividades.

Nessa dinâmica, a orientação educacional atua junto aos alunos, trazendo uma reflexão: esse o problema é pessoal ou coletivo? Os pais também devem ser envolvidos, pois podem ajudar na apresentação de soluções. Antes, porém - ainda no exemplo das tarefas de casa -, eles precisam ser ouvidos sobre as dificuldades em regular as atividades das crianças e trazer sugestões. Certa vez, uma mãe conseguiu que uma organização não-governamental, próxima à escola, montasse um espaço com recursos humanos e tecnológicos para que as crianças que não tinham acompanhamento em casa fizessem as lições na sede da instituição no período da tarde.

Definidas as intervenções, parte-se para a próxima etapa, que consiste em estabelecer coletivamente as metas, assim como os indicadores que apontarão se elas foram ou não alcançadas. Por fim, é importante estabelecer um prazo para que seja possível fazer a verificação do impacto das ações propostas inicialmente. Todo processo de avaliação coletivo é trabalhoso, conflituoso e exige tempo, disposição e muita reflexão. Porém, ao mesmo tempo, ele promete resultados bastante significativos para toda a escola, os alunos e a comunidade.

Nova Escola Edição 005 Dezembro 2009/Janeiro 2010

Catarina Iavelberg
É assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação.

Currículo oculto

Como agir em relação aos conteúdos que são ensinados e aprendidos de forma não explícita na escola


“As ações serão eficazes quando contribuírem para melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem.”

A orientação educacional tem o compromisso de auxiliar a escola em sua função socializadora, criando ou reformulando ações pedagógico-educacionais e favorecendo a articulação de valores que resultem em atitudes éticas no âmbito do convívio social. Ainda que a instituição não conte com um cargo específico para essa função, suas atribuições precisam ser realizadas no dia-a-dia. Como esse campo se ocupa em desenvolver estratégias para a aprendizagem dos conteúdos atitudinais, um dos papéis mais importantes do orientador é gerenciar o currículo oculto.
A maior parte dos problemas tradicionalmente enviados para a sala dele (exclusão de sala de aula, furto, briga, bullying, mau uso dos espaços coletivos, cola em provas, plágio de trabalho, atitude de desrespeito ao professor) está vinculada a esses “conteúdos” que são ensinados e aprendidos de forma não explícita nas relações interpessoais que se constroem na escola. Trata-se de um equívoco acreditar que esse educador deva se ocupar exclusivamente dos alunos (em especial os tidos como indisciplinados e os que têm baixo rendimento) e de suas famílias. Infelizmente, ainda existem escolas que trabalham nessa perspectiva antiquada e “psicologizante”, que posiciona o orientador educacional como alguém destinado a abafar (e não resolver) os conf litos na base da mediação com estudantes, pais e professores. Esse modo de atuar, eticamente ineficaz, faz com que esse profissional muitas vezes se sinta como um bombeiro, que todos os dias apaga incêndios e deixa brasas pelo caminho. Fechado numa sala geralmente distante dos espaços onde o currículo oculto se manifesta, ele acaba brincando de investigador de polícia, juiz ou psicólogo clínico. Alguns ficam constrangidos por terem de atuar assim. Mas há os que exercitam com satisfação esses pequenos poderes.
Uma abordagem contemporânea do trabalho compreende outras competências para o orientador educacional. Ele deve ter certo distanciamento da demanda aparente (queixa) para promover uma escuta analítica que o leve a identificar os agentes, os valores e os conf litos nela envolvidos. Também está sob sua responsabilidade desencadear ações que ampliem o diálogo e a compreensão entre os protagonistas da comunidade, sem jamais negar a natureza dos
conf litos.
O exercício dessas competências só é possível quando o orientador educacional deixa a rotina de sua sala e se insere em outros espaços para procurar e explicitar os elementos do currículo oculto. As ações serão eficazes quando contribuírem para melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem, o que requer a interlocução com a equipe docente e o entendimento do sujeito como um ser histórico, crítico e social. Embora o orientador educacional não seja um especialista nas didáticas – essa é a especialidade do coordenador pedagógico –, ele deve ser capaz de identificar se a ação docente está de acordo com os princípios que norteiam o projeto pedagógico da escola. É imprescindível sua participação nos momentos de formação dos professores, desenvolvendo estratégias para problematizar o convívio e as relações entre as pessoas. Trata-se de promover coletivamente o abandono do discurso pessimista e paralisador do fracasso da escola e do aluno e debruçar-se sobre os obstáculos que precisam ser superados. Existem diversos aspectos que compõem uma boa parceria entre o educacional e o pedagógico. A seguir, alguns exemplos:
• Compartilhar as observações do cotidiano escolar que ajudem a descobrir os aspectos do currículo oculto.
• Problematizar temas relacionados à qualidade do convívio, tais como valores, uso do espaço coletivo, furtos, violência, questões de gênero, preconceito etc.
• Refletir sobre a formação ética do sujeito social por meio da análise dos temas transversais nas diversas disciplinas e da seleção dos temas sociais complexos e o momento mais apropriado para introduzi- los em situações de aprendizagem.
• Investigar a escola sob novos paradigmas, entrando em contato com a produção de teóricos da ciência, da sociologia e da psicologia da Educação.
• Compreender as características da diversidade da família moderna e seus impactos na Educação.
• Informar-se sobre as principais características dos alunos com necessidades educativas especiais e como garantir a socialização e a aprendizagem.
• Construir acordos educativos coletivos que comuniquem o resultado da reflexão da instituição sobre as práticas e sirvam de parâmetros para futuras ações.
A integração do educacional com o pedagógico só funciona nas escolas que acreditam e apostam na troca de experiências e saberes, com o apoio institucional necessário e a adesão de gestores e docentes que não temem buscar oportunidades para propiciar o desenvolvimento de suas competências profissionais.

CATARINA IAVELBERG é assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Mudança de série


Juntos, orientador e professores devem planejar ações para auxiliar as adaptações dos alunos
Catarina Iavelberg


A transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, do 5º para o 6º ano e mesmo do
Fundamental para o Ensino Médio costuma gerar ansiedade e incerteza. É comum que professores, coordenadores e diretores sejam bombardeados no fim do ano letivo com perguntas dos pais, que estão ansiosos sobre as mudanças na futura rotina dos filhos. "As crianças vão mudar de turma?" "Quem serão os novos professores?" "A escola ficará mais exigente?" "Vai aumentar a lição de casa?" "Como será a partir do 6º ano, com tantos professores?"
É assessora psicoeducacional especializada
em Psicologia da Educação.
"E o Ensino Médio? Ele prepara para o vestibular ou é profissionalizante?" Soma-se a isso a sensação de insegurança de muitos alunos em relação à etapa seguinte.
Alguns chegam a pedir para faltar nos primeiros dias de aula por temer o desconhecido ou
o contato com os colegas mais velhos.
Outros têm de se adaptar a uma escola diferente, uma vez que nem sempre as instituições oferecem todos os segmentos da Educação Básica. Lidar com esse quadro sensível é responsabilidade da Orientação Educacional, que deve atuar na integração da comunidade escolar com o trabalho pedagógico. Cabe ao orientador gerenciar as mudanças do cotidiano, incentivando a equipe docente a elaborar estratégias que auxiliem a adaptação dos alunos às novas demandas. Não se trata apenas de definir as turmas do ano seguinte (tarefa que é muito importante), mas desenvolver ações educacionais com os estudantes e sua família para fortalecer o convívio entre todos. Esse planejamento vai ajudá-los a compreender a mudança de série como um passo para uma etapa mais complexa da escolaridade. Uma das atividades indicadas é aproximar os estudantes da turma que cursa a série acima. É possível convidar as crianças da Educação Infantil ou do 1º ano do Ensino Fundamental para apreciar a produção dos colegas mais velhos, assistir a um seminário feito por eles e à apresentação de um trabalho ou participar de um debate. Observar os outros em situação de aprendizagem ajuda a tirar possíveis temores em relação aos "grandes", produz admiração e um tipo de identificação que estimula o desejo de crescer. É interessante fazer um levantamento das expectativas da turma em relação ao ano seguinte e convidar os colegas mais adiantados para uma conversa. Essa estratégia costuma ser eficaz com os que estão no 5º e no 9º ano do Ensino Fundamental. Quem está cursando o 6º ano e já passou pela mudança de segmento pode relatar as experiências dando dicas aos menores. A ideia é falar sobre as maneiras de gerenciar o tempo de estudo e lidar com a diversidade de professores. Do mesmo modo, os estudantes do Ensino Médio orientam os do 9º ano quanto aos cuidados que devem ter em relação às novas disciplinas e demandas. Outra ação bastante eficiente para despertar interesse e compromisso nessa fase de mudança é o planejamento de uma visita, a ser realizada no fim do ano, aos espaços que eles irão ocupar futuramente. Os mais velhos são convidados a atuar como cicerones dos mais novos. O (re)conhecimento antecipado dos novos professores e dos lugares de convivência e de circulação ajuda a transformar a insegurança em uma expectativa positiva. Preparar uma aula inaugural a ser dada com a futura equipe docente também é uma proposta muito bem-vinda. Esse torna-se o momento ideal para apresentar aos estudantes os objetivos e o currículo da próxima etapa. E, se a sua escola não tem a continuidade da Educação Básica, um bom caminho é construir parcerias com outras instituições. Não podemos esquecer que todas as ações planejadas para os alunos devem estar articuladas a outras atividades, com foco na família. As reuniões de pais e toda a comunicação realizada com eles são importantes ferramentas para informar sobre eventuais mudanças na rotina dos estudantes e orientá-los no sentido de ajudar crianças e jovens a enfrentar os novos desafios pedagógicos e pessoais que terão pela frente: maior quantidade de lições de casa, mais tempo de permanência na escola, aumento no número de disciplinas ou de alunos por sala etc. Os pais podem ser orientados a gerenciar a rotina dos filhos, garantindo o equilíbrio entre o tempo destinado aos estudos e as outras atividades. As ações educacionais que visam à adaptação e à integração das turmas no início do ano letivo, como atividades esportivas e culturais, também são bastante importantes. Vale ressaltar aqui a necessidade de dedicar atenção especial aos alunos recém-chegados, um fator que contribui significativamente para a qualidade do convívio escolar entre todos. Ao eleger colegas cicerones responsáveis por apresentar o espaço e a dinâmica da instituição aos novatos, por exemplo, você propicia o fortalecimento da integração do grupo. Se a escola contar com um grêmio estudantil, poderá convidar esse grupo para ajudar a promover atividades de aproximação. Parece paradoxal, mas é fundamental criar diferentes estratégias que auxiliem todos os alunos (e cada um deles) a superar os desafios enfrentados ao longo da escolaridade e, ao mesmo tempo, trabalhar para que essas exigências se tornem cada vez mais complexas.

Nova Escola Edição 004 Outubro/Novembro 2009

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A importância do Orientador Educacional na escola

A escola é o lugar onde o aluno aprende a conhecer a si mesmo, ao outro, a se comunicar e a interagir com a sociedade. Cabe, então, à escola, respeitar a individualidade de cada um, proporcionando experiências e vivências significativas que venham contribuir para que essa aprendizagem aconteça de forma prazerosa. E oferecer uma educação de qualidade, voltada para o desenvolvimento e crescimento do ser humano. A escola é, então, o local onde os alunos buscam a orientação necessária para a realização de construções significativas que possibilitem esse desenvolvimento.
Nesse contexto, a contribuição do Orientador Educacional é de suma importância para essa construção, pois esse profissional promove a verdadeira integração que torna cada pessoa sujeito, estabelecendo um sistema de relações libertadoras em todas as dimensões da comunidade educativa. Abre espaço para todas as pessoas envolvidas no processo ensinoaprendizagem, para que sejam agentes do próprio conhecimento e co-responsáveis nas relações libertadoras, visando autonomia e interdependência dos serviços e pessoas.
O Orientador é o profissional dentro da escola que pode encontrar alternativas de ações que possibilitem ao professor rever sua prática, rever a forma como se relaciona com os educandos e seus próprios colegas educadores, descobrir que tipo de professor é, construir seu próprio conhecimento e sua identidade profissional. Ele deve ter como propósito atuar como elo entre escola e família, buscando sempre um bom ajustamento do educando para alcançar o bom desenvolvimento de suas competências. Deve assumir funções de assistência ao professor, aos pais, às pessoas da escola com as quais os educandos mantêm contatos significativos, no sentido de que estes se tornem mais preparados para entender as necessidades dos educandos tanto com relação aos aspectos cognitivos e psicomotores, como aos afetivos.
Portanto, a construção aberta para o diálogo, a troca, o respeito, o prazer pelo conhecimento e a valorização do ser humano é a chave para uma boa atuação e a valorização do orientador educacional e para a formação de uma sociedade constituída de cidadãos que gozam de liberdade e autonomia, possibilitando uma convivência feliz.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

SOE - Serviço de Orientação Educacional



Vídeo sobre a atuação do Orientador Educacional como elo entre família e escola, possibilitando a valorização do ser humano e o desenvolvimento integral do educando.